Bildade foi um dos três amigos de Jó que tentaram aconselhá-lo durante seu sofrimento.
No livro de Jó, ele defende a justiça divina e se opõe às alegações de inocência de Jó, refletindo a crença de que o sofrimento é consequência do pecado.
Entre os personagens dessa história, Bildade, o suíta, desempenha um papel crucial no debate sobre a causa do sofrimento do patriarca.
Neste artigo, exploraremos quem foi Bildade, suas crenças, seus discursos e o desfecho de sua argumentação.
Quem foi Bildade?
Bildade era um suíta, o que pode indicar que ele vinha de uma região chamada Suá, onde Suá, o sexto filho de Abraão com Quetura, se estabeleceu (Gênesis 25:2).
Ele é mencionado no livro de Jó como um dos três amigos que visitaram Jó após suas calamidades. Os outros dois eram Elifaz, o temanita, e Zofar, o naamatita. Mais tarde, surge Eliú, um quarto personagem que também faz discursos sobre a situação de Jó.
O nome Bildade (do hebraico בִּלְדַּד – Bildad) tem um significado incerto, mas pode ser traduzido como “Filho da Contenda” ou “Filho do Amor”.
Seu nome sugere uma possível raiz semítica, mas a interpretação exata varia entre os estudiosos. Isso pode indicar que ele era alguém ligado a debates e discussões, algo que se encaixa bem no seu papel no livro de Jó.
O Papel de Bildade no Livro de Jó
No início, ele, junto com Elifaz e Zofar, procurou Jó com a intenção de consolá-lo diante de suas perdas e sofrimento.
No entanto, ao verem a gravidade da situação, ficaram em silêncio por sete dias. Porém, quando começaram a falar, em vez de trazerem conforto, suas palavras se tornaram acusações e debates teológicos sobre a justiça de Deus e a condição de Jó.
O primeiro discurso de Bildade
Bildade foi o segundo amigo de Jó a discursar (Jó 8). Seu argumento central girava em torno da ideia de que Deus é justo e que Jó deveria reconhecer que seu sofrimento era uma consequência do pecado.
Ele sugeriu que Jó olhasse para as gerações passadas e aprendesse com elas, pois, segundo ele, o sofrimento era sempre resultado de transgressões.
Trechos principais do discurso de Bildade:
- Jó 8:3 – “Por acaso Deus perverteria o direito? O Todo-Poderoso perverteria a justiça?”
- Jó 8:5-6 – Ele incentiva Jó a buscar a Deus e a se purificar, argumentando que, se Jó fosse verdadeiramente puro, Deus restauraria sua prosperidade.
- Jó 8:20-22 – Ele afirma que Deus não rejeita o justo, mas castiga os ímpios.
Resumo: Bildade defendia uma visão rígida da retribuição divina: os justos prosperam, e os ímpios sofrem. Portanto, se Jó estava sofrendo, deveria admitir sua culpa e se arrepender.
O segundo discurso de Bildade
No segundo discurso (Jó 18), Bildade está mais irritado com Jó. Ele reforça a ideia de que os ímpios sempre sofrem a punição divina.
Ele descreve detalhadamente os castigos que caem sobre os maus e parece sugerir que Jó estava enfrentando essas consequências por ter pecado.
Trechos principais do discurso de Bildade:
- Jó 18:5-6 – “A luz dos ímpios se apagará, e a chama do seu fogo deixará de brilhar.”
- Jó 18:21 – “Assim acontece à habitação do perverso, este é o lugar daquele que não conhece a Deus.”
Resumo: Bildade intensifica seu argumento, deixando implícito que Jó deveria aceitar sua culpa, pois Deus não deixaria um justo sofrer daquela forma.
O terceiro discurso de Bildade
O terceiro discurso de Bildade (Jó 25) é muito curto e enfatiza a grandeza de Deus e a insignificância do ser humano. Ele argumenta que ninguém pode ser puro diante do Criador e faz uma comparação entre a grandeza divina e a fragilidade da humanidade.
Trechos principais do discurso de Bildade:
- Jó 25:4 – “Como, então, pode o homem ser justo diante de Deus?”
- Jó 25:6 – “Quanto menos o homem, que é um verme, e o filho do homem, que é uma larva!”
Resumo: Neste último discurso, Bildade não faz mais acusações diretas contra Jó, mas reforça a visão de que o ser humano é falho e não pode contender com Deus.
O Erro de Bildade e a Resposta de Deus
Embora Bildade estivesse correto ao afirmar que Deus é justo, ele cometeu um erro ao aplicar esse princípio de forma simplista à situação de Jó.
Ele acreditava que todo sofrimento era resultado de pecado, sem considerar a possibilidade de que Deus tivesse outros propósitos para permitir o sofrimento.
No final do livro de Jó, Deus repreende Bildade e os outros amigos de Jó por não falarem corretamente sobre Ele (Jó 42:7-8). Deus os manda pedir a Jó que ore por eles para que sejam perdoados.
O que Podemos Aprender com Bildade?
Em suma, Bildade representa uma visão teológica comum na antiguidade: a ideia de que a justiça de Deus opera de forma imediata e mecânica — os bons prosperam, e os maus sofrem.
No entanto, o livro de Jó mostra que essa visão é incompleta. O sofrimento nem sempre é resultado direto do pecado, e Deus tem propósitos que vão além da nossa compreensão.
Assim, a história de Bildade nos ensina a ter cuidado ao julgar os outros com base em pressupostos simplistas.
Em vez de assumir que sabemos por que alguém está sofrendo, devemos agir com compaixão e humildade, reconhecendo que apenas Deus conhece plenamente Seus planos.