Quem foi EZEQUIAS: O Rei que Desafiou os ASSÍRIOS?

No século VIII antes de Cristo, o mundo antigo tremia sob o peso de uma superpotência: o Grande Império Assírio.

Com sua capital em Nínive, às margens do rio Tigre, os assírios construíram um império implacável — disciplinado, tecnológico e cruel.

Eles dominavam com mão de ferro, trazendo o medo e uma política de deportações em massa.

Quando um reino se revoltava, era fatalmente riscado do mapa, e seus habitantes eram realocados para outros lugares do império.

O Manual Bíblico destaca que a Assíria dominava seus inimigos com “terror e deportações em massa”, uma estratégia planejada para quebrar a identidade das nações conquistadas.

Em 722 a.C., o Reino do Norte de Israel caiu.

Samaria foi destruída, seus habitantes espalhados pelo império assírio.

Restava apenas Judá — um pequeno reino cercado por montanhas, com Jerusalém no alto do seu monte, sustentado pela fé de um jovem rei: Ezequias, filho de Acaz e de Abi.

Quem Foi Ezequias?

Segundo a Bíblia, Ezequias está entre os poucos reis de Judá descritos como íntegros desde o início de seu reinado, porque Ezequias confiava no Senhor. (2 Reis 18.5)

Um testemunho da fidelidade dele também é dado em Jeremias 26.18,19.

Miquéias contemporâneo de Isaías, profetizara que Jerusalém seria destruída (Miquéias 3.12).

A resposta deste rei a tal mensagem foi humilhar-se, Ele buscou ao Senhor e a calamidade não aconteceu.

O nome Ezequias significa “O Senhor fortalece”, e essa verdade se tornaria uma das maiores marcas de sua vida.

Ezequias reinou por vinte e nove anos, entre 715 e 686 a.C.

Ele reinou conjuntamente com seu pai de 729 a 715, e com a idade de 25 anos, tornou se rei absoluto.

A Purificação e a Páscoa

Assim que assumiu o trono, o jovem rei iniciou um amplo processo de restauração espiritual em Judá.

Seu primeiro passo foi purificar e reabrir o Templo, centralizando novamente a adoração ao Senhor em Jerusalém.

Ezequias eliminou a idolatria — inclusive destruindo a famosa serpente de bronze que havia se tornado objeto de idolatria — e buscou devolver ao povo o padrão bíblico de fé e obediência.

Em seguida, organizou uma convocação nacional para celebrar a Páscoa.

Ele enviou mensageiros por toda a região, inclusive aos remanescentes das tribos do Norte, pedindo que todos retornassem ao verdadeiro culto. 

Nessa época, as tribos do norte já não mais possuíam seu centro político.

Samaria fora destruída pelos assisrios em 722 a.C, e os israelitas sobreviventes, coexistiam com outros povos, os quais Salmaneser mandou instalar na região.

O fato é que muitos zombaram, mas uma grande parte atendeu ao chamado.

O resultado foi extraordinário: multidões se reuniram em Jerusalém numa celebração tão intensa e alegre que o povo decidiu prolongar a festa por mais uma semana.

Foi um movimento espiritual tão forte que não acontecia algo semelhante desde os dias de Salomão.

A renovação promovida por Ezequias reacendeu o fervor religioso, fortaleceu o Templo e inspirou generosidade e devoção entre os israelitas.

A Campanha de Senaqueribe

No campo da geopolítica, a situação política de Judá continuava delicada.

Acaz havia firmado uma aliança com os assírios, e, por causa disso, Ezequias passou a ser considerado um rei vassalo. 

Embora conseguisse desenvolver algumas reformas internas, ele acabou entrando em conflito com Sargão II, que havia invadido o país em 710 a.C., mas não chegou a atacar Jerusalém com força total.

Após sua morte em 705 a.C., 

Senaqueribe assumiu o trono da Assíria. 

Esse momento foi visto por muitos povos como uma oportunidade de declarar independência.

Seguindo esse movimento, Ezequias também se rebelou.

Senaqueribe, então, após sufocar revoltas na Babilônia e no Egito, voltou-se contra Judá em 701 a.C. para subjugá-la.

Para enfrentar a ameaça assíria, Ezequias reforçou as defesas de Jerusalém: reconstruiu os muros, ergueu torres e produziu um grande arsenal de armas e escudos.

O rei de Judá também ordenou a construção de um túnel que conectava a fonte do Giom ao tanque de Siloé (2 Cr 32.30), obra executada a partir de dois pontos diferentes, avançando sob a rocha até se encontrarem no meio.

 Esse túnel aumentou a capacidade da cidade de resistir a um cerco ao garantir água mesmo em tempo de guerra.

Na terceira campanha militar, Senaqueribe focou em cidades fortificadas da região oeste de Judá, próximas ao Mediterrâneo.

Fontes arqueológicas — como o Prisma de Senaqueribe, encontrado em Nínive — registram essa campanha com precisão militar:

ele devastou dezenas de cidades de Judá e sitiou Láquis, a segunda mais importante depois de Jerusalém.

O Comentário Bíblico Moody destaca que o relato do Prisma de Senaqueribe é uma das confirmações históricas mais importantes para 2 Reis 18–19.

Enquanto cercava Laquis, Senaqueribe enviou seu oficial Rabsáque a Jerusalém para exigir a rendição.

Ezequias tentou negociar pagando um tributo de 300 talentos de prata e 30 talentos de ouro — o equivalente aproximado a dez toneladas de prata e uma de ouro.

Como enfatiza bem Paul Gardner em Quem é quem na Bíblia ; Ezequias era um rei temente a Deus e também habilidoso politicamente.

Ele confiava profundamente no Senhor para o livramento: “Com ele (Senaqueribe) está o braço de carne, mas conosco está o Senhor nosso Deus, para nos ajudar e para guerrear as nossas guerras” (2 Cr 32.7-8). 

Ao mesmo tempo, conhecia a crueldade dos assírios e, ao se aproximarem, tentou apaziguá-los com o pagamento do tributo — do qual provavelmente se arrependeu, visto ter sido inútil.

O rei assírio não honrou o acordo. Enviou novamente Rabsáque com uma carta e um grande exército a Jerusalém, exigindo a rendição.

O comandante tentou intimidar os judeus falando em hebraico, para que todos entendessem a ameaça, afirmando que ninguém poderia salvá-los — nem mesmo o Deus de Israel…

Portanto, segundo eles, a melhor opção era render-se.

A Vitória de Ezequias

Diante disso, Ezequias foi ao Templo, apresentou a carta ao Senhor (2 Rs 19.14ss) e orou.

Reconheceu que o Deus Todo-Poderoso era soberano sobre todos os reinos da Terra e clamou para que o Senhor libertasse Judá de Senaqueribe, a fim de mostrar ao mundo que Ele é o único Deus verdadeiro.

Como lembra o comentário da Bíblia de Estudo Pentecostal, ao apresentar a carta no Templo, Ezequias reconheceu que nenhum poder humano poderia salvá-los. 

Ele clamou para que Deus não apenas livrasse Jerusalém, mas mostrasse ao mundo inteiro que só o Senhor é Deus.

Era uma fé rara, sincera, que abriu caminho para a intervenção divina anunciada por Isaías.

A resposta de Deus veio por meio do profeta Isaías.

 O Senhor denunciou a arrogância assíria, fundamentada na crença de que Judá cairia facilmente e na convicção de que nenhum deus de qualquer nação havia resistido ao exército da Assíria.

Por isso, 2 Reis 19.25–28 declara que Deus colocaria um anzol no nariz de Senaqueribe e o faria retornar pelo caminho de onde veio.

O texto mostra que Senaqueribe chegou até onde Deus permitiu, e nada mais.

Isaías profetizou que o rei assírio não conquistaria Jerusalém e que sua morte viria por intervenção divina.

Na mesma noite em que o Senhor enviou o seu anjo, 185 mil soldados assírios morreram, fazendo com que Senaqueribe levantasse acampamento e retornasse à Assíria (2 Rs 19.35).

Embora a Bíblia não detalhe o que causou a morte dos soldados, vários registros históricos mencionam acontecimentos ligados ao episódio.

O historiador Flávio Josefo atribui a tragédia a uma doença.

Já Heródoto relata que ratos roeram as aljavas, as cordas dos arcos e as alças dos escudos, deixando os assírios praticamente indefesos.

Mais tarde, Senaqueribe foi assassinado pelos próprios filhos, Adrameleque e Sarezer, enquanto adorava no templo do falso deus Nisroque, em Nínive.

Por fim, a salvação de Jerusalém resultou em grande reconhecimento público da soberania do Senhor.

Muitas pessoas passaram a buscar o Templo (2 Cr 32.23).

Ezequias também foi honrado depois desse evento.

O exército assírio havia cercado a cidade com a intenção de destruí-la, mas Deus interveio de forma extraordinária, eliminando 185 mil soldados.

Esse milagre abalou profundamente o mundo da época, levando nações vizinhas a refletirem sobre o poder do Deus de Israel.

A Doença, cura, e o Fim da Vida de Ezequias

Enquanto Judá ainda se recuperava da ameaça assíria, Ezequias enfrentou uma doença mortal.

Deus enviou Isaías com uma sentença: ele deveria colocar sua casa em ordem, pois morreria.

Ezequias então orou profundamente e chorou diante do Senhor, pedindo misericórdia.

Antes mesmo de Isaías deixar o pátio, Deus respondeu: Ezequias seria curado, subiria ao Templo em três dias e receberia mais quinze anos de vida, junto com uma nova garantia de livramento contra a Assíria.

Isaías pediu que aplicassem uma pasta de figos sobre a ferida, e Ezequias começou a se recuperar.

A Bíblia de Estudo Pentecostal, na nota de 2 Reis 20:7, comenta que a doença de Ezequias provavelmente envolvia uma inflamação grave — talvez uma úlcera ou abscesso — algo sério o suficiente para ser considerado mortal naquele tempo.

A pasta de figos, mencionada por Isaías, era um tratamento comum na medicina antiga.

Mas o comentário enfatiza um ponto essencial: o verdadeiro agente da cura não foi o remédio em si, mas a intervenção direta de Deus, que respondeu à oração sincera do rei.

Após sua cura, emissários da Babilônia visitaram Jerusalém. Ezequias, imprudentemente, mostrou todos os seus tesouros e armas.

Isaías então profetizou que, no futuro, tudo seria levado para a Babilônia, e até os descendentes de Ezequias seriam levados como eunucos.

O rei aceitou o juízo e continuou governando até sua morte em 686 a.C., sendo lembrado por obras importantes como o aqueduto de Jerusalém.

Após sua morte, Manassés, seu filho, assumiu o trono.

A história de Ezequias revela um líder profundamente sensível a Deus, mas também humano e sujeito a falhas — e que os quinze anos extras mostram a soberania de Deus sobre a vida e sobre o tempo.

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